Adonai, o Deus de
Israel, pediu a Abraão que saísse da sua terra e da casa de seu
pai e agora dá a razão daquele pedido.
v.2 Farei
de ti um grande povo. O autor deste texto escreve durante o
grande esplendor do império salomónico, e projecta esta situação
de forma indirecta, colocando-a como promessa de Deus a Abraão.
Para o autor, a figura de Abraão e o reino davídico fazem parte
desse mesmo projecto de Deus. Isto legitimará também a dupla
investidura do rei Salomão, filho de David.
Deus escolhe Abraão
(Ne 9,7) como chefe de um povo que, por vontade de Deus,
será sua propriedade exclusiva, (Dt 7,6). O verbo
escolher terá como objecto directo o povo como se pode verificar
em Dt. 4,37; 7,6-8; 10,15; 14,2; Ez 20,5; Is 41,8-10.
Esta escolha, também chamada
«eleição», não é um privilégio, nem uma honraria , mas antes uma
missão a cumprir.
Israel será
encarregado de uma benesse vinculativa para vantagem de toda a
Humanidade. Deverá levar todos os homens e todas as mulheres a
amar e a adorar o Deus de Israel, o Deus único, criador e
salvador. A escolha de Israel por parte de Deus é uma escolha
que permanece. mesmo quando o povo é infiel. Isto mesmo nos é
recordado por São Paulo que, referindo-se a Israel, dirá: os
dons e e o chamamento de Deus são irrevogáveis (Rm 11,29),
um argumento que é retomado no Concilio Vaticano II (Nostra
Aetate n.4), que cita as palavras de Paulo respeitantes às
promessas e à aliança (Rm 9,4-5). Desta forma o Concílio declara
ilegítima a teologia da substituição, segundo a qual a
Igreja substituiria Israel. Ainda hoje, os Hebreus se sentem
credores e responsáveis de um chamamento particular e têm um
papel na história da salvação. (Rm 11,25).
v. 2a
tornarei grande o teu nome. É a frase dita por Deus a David
(2 Sam 7,9). Há de novo uma projecção
retrospectiva.. Contrariamente à geração da torre de Babel, que
quisera fazer o seu nome a partir de si própria, é Deus que
torna grande o nome daqueles que a Ele se fidelizam totalmente.
Deus torna grande o nome daquele que, para responder ao seu
chamamento está disposto a deixar os laços naturais e humanos
que lhe dão segurança. Assim fez Abraão e assim fariam os
discípulos de Jesus. Nós deixámos tudo e seguimos-te (Mc
10,28). Veja-se também em Mt 4,22;19,27; Lc 5,11.18,28; Mc 1.20)
v. 2b-3
abençoar-te-ei...e tornar-te-ás uma bênção...abençoarei aqueles
que te abençoarem... e assim dir-se-ão benditas todas a famílias
da terra. O verbo bendizer consta por cinco vezes.
Abraão abre a nova página luminosa da bênção e da salvação. A
bênção, que no início pairava sobre os seres vivos (Gen
1,22-28), é agora dada a um só homem (Gen18,18; 24,35).
Abraão é a personificação da bênção e com ele a bênção
transforma-se em promessa (Gen 22,15-18; Sir. 44,19-26).
No plano salvífico do Senhor,
Abraão tem o papel de mediador da bênção para todas as gerações
e para todas as famílias da terra. A sua bênção também
nos abrange (Actos 3, 25-26; Gal 3, 8-9 e 14; 1P 3,9; Heb
6,13-18).
A bênção de Deus a
Abraão está relacionada com a prece relatada em Num 6,22-27,
bênção solene, que vinha sendo regularmente celebrada no culto
de Israel. Esta prece não é um voto, nem uma acto mágico, mas
uma palavra eficaz, que opera no espaço da obediência da
fé. Foi assim para Abraão.
O Salmo 67/66
alarga discretamente esta bênção a todos os povos, sem mediação.
A frase dita a
Abraão, proclamarei benditas todas as famílias da terra,
abrange uma vastidão que o autor sagrado não poderia imaginar.
Com efeito, Jesus, descendente de Abraão, preanunciado como
profeta de Moisés (Dt. 18,18), é a bênção por excelência, é o
Filho de Deus. Será ele a fazer chegar, através dos seus
discípulos, a bênção da descendência de Deus a todos os
povos que nele crêem.