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Adonai Prefere os "Menores"

 
Génesis 27, 5 - 45
 

Nicoletta Crosti

 

Este capítulo retoma e desenvolve o tema da rivalidade entre os dois gémeos, Esaú e Jacob (Gn c. 25). A trama da narrativa pagã, que queria mostrar a sagacidade dos antepassados, é utilizada pelo autor bíblico para mostrar uma característica do agir de Adonai, o Deus de Israel. Este, no misterioso desenvolvimento da história da salvação, parece preferir os “pequenos”, os “menores”, e justifica-se assim:

… eu não vejo aquilo que o homem vê. O homem olha para a aparência, o Senhor olha o coração. ( I Sm 16,7)

Alguns exemplos desta escolha de Deus: Ismael, o mais velho deve deixar o direito de primogenitura a Isaac (Gn 21,9-12), Manassés, o mais velho, deve deixá-lo a Efraim (Gn 48,13-20; Gedeão é o escolhido, não obstante ser a sua família a mais pobre e ele o mais novo da família (Jz 6,12-16); Israel é escolhido por Adonai não obstante ser o mais pequeno de todos os povos (Dt 7,7-8); David é escolhido, não obstante ser o mais novo da família  (1Sm 16,10-11); Belém de Efrata tão pequena entre as terras de Judá (Mq 5,1). O Salmo  118/117, 21-24 diz : a pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se a pedra angular, afirmação retomada no N.T. (Mt 21,42 e 1Pe 2,7). Jesus, pegando neste tema, dirá: quem for o mais pequeno de entre vós, esse será o maior (Lc 9,48; ver também Mt 18,3-4) e recordará que o reino dos céus pode comparar-se a um grão de mostarda … a mais pequena de todas as sementes. (Mt 13,32).

Jesus escolherá para chefe responsável da primeira comunidade cristã um pescador da Galileia (Jo 21,15-17).

Deus, escolhendo para os seus projectos aqueles que na sociedade estão em último lugar, demonstra ser capaz de construir coisas grandiosas com instrumentos frágeis.

Também neste capítulo Jacob, o mais novo, é escolhido por Deus para continuar a linha da bênção patriarcal de Abraão.

vv.5-7 Ora Rebeca escutava, enquanto Isaac falava ao seu filho Esaú … abençoar-te-ei em nome do Senhor antes de morrer. Estas palavras de Isaac fazem nascer em Rebeca, que privilegiava Jacob (Gn 25,28), o desejo de contrariar os planos do marido.

v. 8-10 Olha filho meu, obedece à minha ordem: vai já ao rebanho … teu pai o comerá para que te bendiga … Rebeca é peremptória, quer armar um ardil para enganar o marido, fazendo pouco do ritual sagrado da bênção patriarcal.

v. 11 Respondeu Jacob … sabes que o meu irmão Esaú é peludo … o meu pai vai aperceber-se ... Jacob tinha direito à bênção paterna tendo comprado o direito de primogenitura, mas nunca deveria enganar o seu pai aproveitando-se da sua senilidade.

v. 13 Recai-a sobre mim a sua maldição … tu obedece … Rebeca não sabe aquilo que diz e impõe a sua escolha ditada por uma preferência sentimental, de facto ficará separada do filho predilecto por vinte anos. As personagens da narrativa fazem questão de competir nos gestos incorrectos e o autor bíblico faz questão em sublinhar que por isso viverão anos de sofrimento.

vv.14-17 Para o sucesso desta empresa mãe e filho pensam no detalhe, o pêlo do corpo de Esaú, o seu “odor” de homem de caça e o cabrito cozinhado segundo o gosto do pai.

v. 19 Eu sou Esaú, o teu primogénito … senta-te e come … dá-me depois a tua bênção. Para conseguir o seu empreendimento Jacob è obrigado a insistir na mentira (v. 20 e v.24)

v. 22 Isaac seu pai tocou-o e disse: a voz é a voz de Jacob, mas os braços são os braços de Esaú. O autor faz que Isaac faça uma figura mesquinha, que não é mais o vencedor activo no aproveitamento da terra como no c. 26, mas um velho semi-cego que cai num ardil, e ultrapassa toda a dúvida (v. 27) quando aspira o odor das vestes de Esaú, o seu predilecto.

vv. 27-29 Isaac … abençoou-o: … Deus te conceda a chuva do céu e as boas colheitas da terra … que os povos te sirvam … sejas senhor dos teus irmãos. Esta fórmula de bênção segue um esquema cananeu arcaico, não se menciona a descendência e a posse da terra, típicas das promessas de Adonai.

vv. 30-32 Esaú chegou da caça … levanta-te meu pai e come … para que me bendigas. Esaú de pois de ter cozinhado a caça selvagem, espera receber a bênção paterna.

v. 33 Então Isaac foi colhido por um grande tremor ... quem era … eu abençoei-o e abençoado ficará.  Isaac descobre ter cometido um erro irremediável.  Nem fraude nem outra intenção por parte de Isaac poderiam anular tudo quanto foi dito a Jacob. Isaac comportou-se de forma superficial com respeito à sua bênção testamentária e é agora punido por essa irresponsabilidade.

O autor bíblico quer que o leitor se dê conta de que

Todo o pecado ou irresponsabilidade traz em si a própria maldição.

v. 34 Quando Esaú ouviu as palavras do seu pai, começou a gritar e a chorar amargamente. Como era previsível, Esaú tem uma reacção violenta, não aceita a situação, tenta obter outra forma de bênção.

v. 37 Isaac respondeu … eu já o constitui como teu senhor. Isaac reforça a sua acção, alienando-se de tudo quanto tinha sido previsto anteriormente (Gn 25,23) face à reacção do filho que queria ter uma bênção a todo o custo. Parece que Isaac sente interiormente que foi o próprio Deus que nele agiu.  

v. 39-40 Então o seu pai tomou a palavra ... Longe da terra fértil será a tua morada … viverás da tua espada … As terras montanhosas e rochosas de Edom eram pouco cultiváveis, adaptadas só à vida dos caçadores nómadas, desprezados pelos israelitas. A espada não é um instrumento de caça, onde se adoptavam o aço e a flecha, mas é um instrumento de assassínio, emblema de guerra. O prognóstico de um futuro arriscado refere-se à independência de Israel que Edom obterá em  848 a.C.

v. 41 Pensou Esaú … matarei o meu irmão. Actuam as previsões do pai que falavam de espada; nasce o projecto de uma vingança mortal. Esaú torna-se o novo Caim e Jacob para salvar a vida deverá fugir de casa e ficar afastado dela por muitos anos.  

vv. 42-45 Rebeca toma a iniciativa e pensa que a distância geográfica impedirá a execução da vingança. Dá-se conta que se Jacob for assassinado, também Esaú como fratricida será obrigado a fugir (v.45) e assim perderia os seus dois filhos.

   
 

Tradução: Ana Luísa Teixeira

   
 

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