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A História da Salvação

é uma História de Provas e de Bênçãos

 

Génesis, capítulo 39

 

Nicoletta Crosti

 

A personagem principal do capítulo não é José, como poderá parecer, mas Adonai. Nos primeiros seis versos o nome de Adonai é repetido cinco vezes. Adonai tinha dado aos Patriarcas a promessa de bênção e aqui e agora começa a realizá-la. José é apresentado como o novo Abraão, através do qual Adonai torna visível a sua promessa de bênção para todas as nações, incluindo o Egipto ("em que serão abençoadas todas as famílias da terra" Gn 12,3).

vv. 2-3 Mas o Senhor estava com José... o seu amo viu que o Senhor estava com ele e  o Senhor  fazia prosperar tudo o que empreendia. Estas duas expressões são repetidas no final do mesmo capítulo, para dar a chave de leitura para toda a passagem: Adonai está sempre com o seu fiel e ajuda-o, especialmente quando se encontra num estado de opressão.

vv. 4-5 Assim José encontrou graça aos seus olhos... entregou-lhe a administração de todos os seus haveres... em casa e no campo. José homem livre tinha-se tornado um escravo de Putifar, mas a bênção do Senhor transforma-o num homem com todas as responsabilidades de um homem livre. Para o autor, a rápida ascensão de José é milagrosa. A mensagem implícita é:

O Senhor não livra das provas, mas quer exercitar o fiel a ver a sua presença nas provas e a continuar a crer n’ele.

Para o crente as pegadas do Deus invisível (Sl 77/76, 20) tornam-se visíveis.

vv. 6 O hagiógrafo é muito prolixo sobre a ‘beraka’, a bênção de Deus. É o tema principal do capítulo.

vv. 7-8 A mulher do amo…  disse-lhe: une-te a mim! Mas ele recusou. A tentativa de adultério realizada pela esposa do amo é um clássico da literatura daquele tempo. Veja-se a a "história dos dois irmãos do Egito (1500-1000 aC). Enquanto o marido está longe, a esposa do irmão mais velho tenta seduzir o irmão mais novo, o benjamim, que se recusa. Quando o marido regressa, a esposa mente e calunia o jovem, que, no entanto,  consegue justificar-se e a esposa é morta.

v. 9 Como cometeria eu esse grande mal, e pecar assim contra Deus? José dá dois argumentos para rejeitar o adultério. O primeiro vem da ética que decorre dos livros sapienciais, que valorizam as virtudes humanas da educação, da justiça, da honestidade, da responsabilidade moral, em que o adultério é o grande mal (Pr 2,16 - 19; 5,20-23; 6,20-29; c 7). O segundo argumento: o adultério transgride um mandamento de Adonai. O adultério era considerado em Israel como um dos crimes mais graves, havia a pena de morte (Ex 20:14, Lv 18,20, Dt 22,22). O pecado de adultério saía fora da esfera privada  e tornava-se  pecado de toda a comunidade.

v. 12 Ela agarrou-o pelo manto… mas ele abandonou-lhe o manto nas mãos e fugiu… A história atinge o seu clímax com a fuga de José, que deixou o manto, que era uma túnica tida como segura para toda a vida. O termo manto, usado seis vezes em seis versos, o autor relaciona-o à figura de José. A cena é descrita com muito realismo.  

v. 14 Olhai, introduziu em nossa casa um homem hebreu para nos escarnecer …mas eu desatei em altos gritos. A mulher permanece numa situação embaraçosa e pensa livrar-se dela caluniando José. A expressão depreciativa homem judeu  refere-se à primeira acepção da palavra que, no  Médio Oriente, se aplicava a um estado social muito espalhado no Médio Oriente: aquele que nada tinha, muitas vezes a mercenários que facilmente fomentavam rebeliões internas, e que eram sempre mal vistos. Num segundo tempo, o termo judeu será usado pelos judeus para se definirem na frente de estranhos (Gn 14,13; 40,15; Es 5,3; 7,16; Jonas 1,9). Na lista dos descendentes de Sem, cita-se um Eber (Gn 10,21.25) como o progenitor dos judeus, já considerado um grupo étnico-político.

A palavra escarnecer dos v. 14 e 17 indica o prazer erótico. A mulher mente dizendo que gritou, porque sabe que isto a desculpará face aos juízes, porque demonstra que não consentiu (Dt 22, 23-27) e assim poderá ser subtraída à pena de morte. De facto, ninguém poderia ouvi-la gritar, uma vez que no  v. 11 especifica-se “não estava nenhum dos empregados domésticos ”.

vv. 16-17 A mulher repetiu a história ao marido. Novamente José foi caluniado.

vvt. 19-20 O amo... encheu-se de ira... e colocou-o na prisão. Esse final é estranho porque o amo teria que matar José. Matavam-se os homens livres quando cometiam adultério, tanto mais ele que era um escravo. Mas a história de José deve continuar e as bênçãos de Deus também.

v 21 Mas o Senhor estava com José... e fez com que encontrasse graça aos olhos do comandante da prisão. Putifar, amo de José, devia  ser o dono da prisão, na verdade prendeu-o, puniu-o, sem pedir um julgamento público. É novamente retomado o tema dominante do capítulo e de uma maneira incisiva. O Senhor está  "com" o crente injustamente oprimido e ajuda-o.

v. 22 Assim o comandante da prisão confiou a José todos os preso… e não se importava com nada... aquilo que ele fazia o Senhor tornava próspero. O livro da sabedoria (Sb 10,13-14) recorda brevemente toda esta senda de José e nela vê a presença de Deus que age segundo a sua Sapiência.

O narrador além de sublinhar o tema central da presença e das bênçãos de Deus, quer realçar a figura de José como um modelo a seguir.

José é um homem sábio, capaz, temente a Deus, que nas provas não se deixa desencorajar  mas dá sempre o melhor de si.

 

Tradução: Ana Luísa Teixeira

   
   
 

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