O autor
continua a descrever José como um homem de Deus, que dá provas de
ter as qualidades necessárias para resolver a crescente ameaça da
fome. Além disso, descreve-o como um homem que se envolve nos
acontecimentos, toma iniciativas, vive de modo responsável os seus
compromissos, não é apenas um espectador. Não está de braços
cruzados, faz. Pensa mais no bem daqueles que encontra do que no
seu bem pessoal. É exactamente o que cada hebreu deve ser.
De facto, no centro da
fé de Israel está o binómio escutar/fazer. É com a prática que se
exprime o amor a Deus.
Os crentes sabem que são
servos de Adonai. Servos não escravos, porque Deus pode ser
servido apenas por homens livres que escolhem tornar-se servos (Dt
10,12). Servos são os patriarcas (Dt 9,27), Moisés (Nm 12,7; Dt
34,5; Sl 105/104, 26), David (2 Sm 3,18; I Rs 11,13), Maria de
Nazaré (Lc 1,26), Paulo de Tarso (Tt 1, 1), e todo o povo (Lv 25,42;
Ne 2,20; 1Co 16,13). Os servos estão sempre em acção e na escuta do
que o Senhor lhes pede através dos acontecimentos da vida. Jesus
insere-se nesta mesma linha quando diz para fazer a verdade (Jo
3,21) e insiste no fazer a vontade de Deus, do Pai, e
fazer acontecer a Palavra (Mt 7,21 e 24, Mc 3,35. Lc 6,46 -47;
8,21; Jo 6,38; 8,29).
vv. 37 - 40
Isso agradou ao faraó …ninguém é tão inteligente e sábio como tu
…as tuas ordens regularão todo o meu povo.
O faraó ficou muito satisfeito com
as palavras de José, porque, ao mesmo tempo que anuncia a tragédia
iminente, dá a solução para a superar. O faraó parece exagerar em
dar a José o cargo de primeiro-ministro, isto é, representante do
próprio faraó, e ao mesmo tempo também prefeito do palácio,
tornando-se a pessoa mais poderosa no Egipto depois do Faraó (v.
44). Esta ascensão é apresentada como rápida e milagrosa, porque é
preciso ficar claro que foi querida por Deus.
Deus de facto é
aquele que mata e dá a vida, faz
descer à sepultura e levanta
(1 Sm 2,6).
vv. 42 - 43
O faraó tirou da mão o anel e pô-lo na mão de José …fê-lo subir
para o segundo carro e na sua frente gritava-se Abrech.
Particularmente importante
foi a entrega do selo real, que ratificava perante o povo os desejos
do faraó. O significado da palavra Abrech não está claro: se
a palavra é egípcia, significa "atenção"; se for hebraica, significa
"de joelhos". Significará, portanto, cuidado e obediência.
vv. 44 - 46
O faraó pôs a José o nome de Safnat-Panéa e deu-lhe como esposa
Assenat, filha de Potifera, sacerdote de On.
A mudança do nome é um acto
importante que integra José no ambiente da corte egípcia. Na
tradição rabínica, o nome é traduzido como "aquele que explica as
coisas ocultas", o revelador dos mistérios. O faraó dá a José como
esposa, a filha do sumo sacerdote de On/Heliópolis e assim integra-o
definitivamente na nobreza egípcia.
A facilidade com que José é
integrado na corte egípcia mostra que a história foi escrita numa
época de grande tolerância, portanto, antes do exílio da Babilónia
(587-538 aC).
vv. 46 - 49
A narrativa torna-se
detalhado e no v. 49 há um exagero evidente.
vv. 50 - 52
Entretanto nasceram a José dois filhos… chamou o primógenito
Manassés… e o segundo Efraim.
O nascimento de duas crianças dá
completude ao quadro de um José liberto da escravidão, completamente
reabilitado, e que agora ascende ao mais alto cargo político. O
autor chama a atenção para a grande bênção dada a Abraão, o
ascendente de José, "Farei de ti uma grande nação" (Génesis 12,2) e
lembra que
Deus é sempre fiel às
suas promessas.
O autor tornou José pai de dois
filhos, porque historicamente a tribo de Efraim, depois de uma
temporada no Egipto, se juntou à tribo de Manassés, e fez sua a
figura epónima de José, que assim se tornou o ascendente das duas
tribos. Os nomes dados aos dois filhos de José são a expressão de
gratidão pela ajuda recebida de Adonai. Manassés significa "Deus
me fez esquecer de toda a minha dor e da casa de meu pai,".
Esquecer não significa não recordar mas sim não ter saudade.
Efraim significa "Deus me fez crescer na terra da minha aflição", ou
seja, a terra que parecia hostil e triste transformou-se numa terra
que produz frutos, isto é, a descendência.
v. 54
Começaram a chegar os sete anos de fome… Entra em cena a
fome, como previsto por José, será este o fio condutor da história
dos irmãos. A ênfase que num
primeiro momento é dada apenas à fome fora do Egipto, recorda o
facto histórico de um Egipto, onde sempre havia trigo, mesmo quando
faltava nos países limítrofes.
v. 55
Ide a José; fazei o que ele vos disser. O faraó é
responsável pelo bem-estar de seus
súbditos, especialmente no Egipto, onde os súbditos eram escravos do
faraó. O faraó dá a sua plena confiança a José e diz uma frase que
vai manter a tradição hebraica, ao ponto do evangelista João a
colocar nos lábios de Maria em Canaã, referindo-se a Jesus (Jo 2,5).
v. 56
A fome assolava toda a terra… então José vendeu o trigo.
José torna-se o doador de vida numa situação de morte.
v. 57
De todo o lado chegavam ao Egipto para comprar o trigo de José...
Esta frase quer ligar
este capitulo com o seguinte e com o desenvolvimento da história.