Neste capítulo são
retomados temas já apontados; aquele em que Adonai ouve o grito
de sofrimento dos Israelitas (v.5), a vocação de Moisés enviado
a libertar os Israelitas (vs. 6-10), a apresentação do nome de
Adonai (v.3), e a promessa da terra de Canaã (v. 4). Mas aqui em
cada tema aparecem destacados elementos teológicos novos, porque
a teologia do Êxodo vem apresentada segundo a tradição
sacerdotal. Traz-se para primeiro plano o “dar-se a conhecer”
aos hebreus e egípcios por parte de Deus, e o “conhecer” o
Senhor por parte dos israelitas, “sabereis que sou o Senhor”
(v.7).
A
história do Êxodo não é só a história de uma libertação, é
sobretudo a história da revelação progressiva de Adonai.
vs. 2-3
“eu sou Adonai (o Senhor)”. Deus apresenta-se com o seu nome
próprio, à semelhança do que já tinha feito no c. 3 do Êxodo,
repetido no v. 8, como confirmação das palavras que acabavam de
ser pronunciadas. É a grande novidade do Êxodo. Vem
explicitamente dito que é o mesmo Deus, aparecido a Abraão,
Isaac e Jacob, e desta forma se liga o livro do Êxodo ao do
Génesis. vv. 4-5“Eu estabeleci a minha aliança convosco, para
vos dar a terra de Canaã… e recordei-me da minha aliança”
esta aliança/promessa da terra é iniciativa de Deus à qual quer
permanecer fiel (como já tinha acontecido com Noé, Gn 9,14-16).
É uma aliança unilateral e incondicional (Gn 15,18; 17,8).
Foi esta a grande descoberta dos israelitas na Babilónia, que
lhes permitiu continuar a esperar um retorno. v. 6 “livrar-vos-ei da escravatura e vos resgatarei”.
Adonai é o ‘goel’, o parente que resgata aquele que caiu na
escravatura por causa das dívidas.
“com grandes juízos” Adonai julga quem ignora a sua soberania (Ez
7,1-13; Es 4,22-23).
Deus é
o redentor, é uma qualidade constitutiva do seu ser.
v. 7
“Tomar-vos-ei como o meu povo (adoptar-vos-ei) e tornar-me-ei no
vosso Deus”. Pela primeira vez se faz referência à
declaração fundamental da aliança do Sinai dos capítulos
seguintes, aliança esta por sua vez bilateral e condicionada,
diferente, no entanto, daquela que se refere à terra. É a grande
vocação de Israel: ser o povo de Deus. “e vós sabereis que sou o Senhor”. A libertação para se
tornar salvação deve ser reconhecida enquanto revelação do deus
que salva. Nesta mesma linha Jesus dirá “... a tua fé te
salvou”.
Revelação do Deus que
salva e resposta da fé são parte integrante da completude do
acto salvífico.
v. 8“
dar-vos-ei em posse” - Trata-se de uma posse relativa porque
a terra permanece do Senhor, dono de toda a terra (Lev 25,23). A
terra é o grande dom de Deus, é a dádiva fundamental, a qual se
actualiza no dom quotidiano do alimento (Sl 136/135, 21-22,25).
Deus é
aquele que a antonomásia dá.
v. 12
“tenho a palavra presa”. Literalmente “os lábios não
circuncisos”, não purificados e portanto incapazes. Como já
no c. 3, Moisés põe objecções. Adonai aceita e põe Araão ao lado
de Moisés.
Neste capítulo emerge a figura de Araão, que se tornará
sacerdote. É uma figura necessária para legitimar o sacerdócio
de Jerusalém no tempo do pós-exílio.
No texto, Moisés precede em duas vezes o nome de Araão (vv. 13 e
27), e uma vez segue-o (v. 26); é a tensão entre profetismo e
sacerdócio, que permeia todo o Pentateuco. vv. 15-25. Vem referida a genealogia de Araão e Moisés. A
genealogia é importante para legitimar os direitos e o status
das famílias, especialmente no período do pós-exílio, quando um
número elevado de repatriados tiveram que provar serem hebreus (Esdra
c. 2). A genealogia focaliza-se em Levi, no seu descendente
Araão e na sua família. As outras personagens citadas serão
importantes no Pentateuco, como Coré (Num 16), Eleázaro (Num 17)
e Fíneas (Num 25).