© "Via sacra"  Bill Ross
 

 

Janeiro - 2009

A Tua Palavra Ilumina os Meus Passos

 

Êxodo

Os Israelitas não quiseram sair do Egipto

   

Êxodo, capítulo 5

   
Autora: Nicoletta Crosti
 

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O capítulo liga quanto precede com a sequência das “pragas”. Estão presentes as personagens principais do drama do êxodo: Moisés e Aarão, servos de Adonai, o faraó (o opressor, símbolo de todo o poder imperial), os israelitas (os oprimidos) e Adonai. Tudo se desenrola no Egipto mas não como se esperaria.

Israel, de facto, não quer sair do Egipto, contenta-se na sua vida egípcia.

Mas Deus não. Não se contenta, quer fazer com que Israel conheça a liberdade, aquela que é a verdadeira.
O autor utiliza a narrativa histórica como metáfora da história da humanidade, em que o mal e o bem se confrontam através de figuras invariáveis presentes também na história contemporânea. Nesta luta, não são só intervenientes as criaturas de Deus, mas também e, em primeiro lugar, Deus e o seu ‘inimigo’ , a força do mal. Agem ambos através dos seus “servos”.
A situação descrita pelo autor faz pensar nas dificuldades no tempo de Neemias (sec. V a.C.), com que este deparou no conflito entre os repatriados do exílio e a população local (“o povo da terra”), numa situação de disparidade económica, que vinha dos judeus escravos dos seus irmãos judeus. (Ne 5, 1-13).

v. 1-2 “Assim falou o Senhor…deixa ir o meu povo”. É uma oração na forma imperativa. Adonai apresenta-se, pela primeira vez, como o Deus de Israel. Adonai não entra na lista dos deuses que são reconhecidos pelo faraó, nem tem autoridade sobre o território do Egipto e, nem sequer, obtém resposta negativa do faraó. Ao faraó não interessa o pequeno deus dos escravos.

v. 3 “ …para que não nos golpeie com a peste ou a espada.” Moisés e Aarão insistem, não obstante a resposta negativa do faraó, explicando que o seu Deus tem poder de vida e de morte sobre o seu próprio povo e que até ao faraó convém obedecer, se não quiser perder os seus escravos hebreus.

Adonai é o soberano que concede aos seus servos uma festa em sua honra, enquanto o faraó concede aos seus servos mais trabalho forçado.

vv. 4-5 “Porque distraíste o povo dos seus trabalhos?” O faraó só compreende o trabalho e considera Moisés e Aarão como agitadores. O repouso dedicado ao culto torna-se para ele uma agitação intolerável.

O faraó tem medo do número dos israelitas (veja-se Ex 1, 9-10) e pensa que a dureza do trabalho fará diminuir a fertilidade dos Hebreus.

vv. 6-7 “Não dareis mais a palha ao povo …mas devereis exigir que façam o mesmo número de tijolos que faziam antes”. A ordem do faraó dirige-se quer aos supervisores, atormentadores, quer aos escribas. Estes últimos, os intelectuais de Israel, são chamados a controlar os seus irmãos: provavelmente tinham sido escolhidos de entre os anciãos, os mesmos a quem Moisés tinha comunicado o programa de liberdade de Deus. Aqui, os escribas comportam-se como “colaboracionistas”, aspecto bem documentados no mundo antigo (vejam-se 2 Rs 23,35 e também Nm. 5,14-19), e não só. A palha vinha junta com a argila para assim dar consistência ao tijolo.

vv. 7-9 “Porque são preguiçosos, por isso protestam”. O faraó escarnece demonstrando a sua crueldade e pensando resolver o problema utilizando a violência.

v. 10-11 “Assim fala o faraó…” Os supervisores e os escribas, juntos, falam ao povo. Os escribas não têm a coragem de contestar logo o faraó e de fazer notar o absurdo da sua exigência. A arrogância do poder só provoca outra violência. (1 Rs 12,1-19).

vv. 12-14 Naturalmente a dispersão dos israelitas (em busca da palha) impede-os de levar a bom termo a produção do número de tijolos exigida, o que tem como resultado que os escribas são censurados, eles que tinham sido escolhidos e promovidos. O seu colaboracionismo não aparece apaziguado e sobre eles se desencadeia uma nova violência. O autor ironiza, assim, através destas figuras ambíguas.

vv. 15-16 “Porque tratas assim os teus servos?…a culpa é do teu povo”. Os escribas são vistos como “servos” do faraó, são súbditos obedientes e só contestam a falta de palha e descarregam a culpa sobre o povo (chamado o povo do faraó), lamentando-se de terem sido açoitados em vez dele. Só estão preocupados em não perder o seu posicionamento de privilégio, são fidelíssimos ao status que lhes convém. Os “cabos de esquadra” são escolhidos pelo poder para que possam dividir, tanto no Egipto como em Auschwitz.

Os israelitas não contestam a ditadura, entre Adonai e o faraó escolhem o faraó, de quem querem permanecer escravos, preferem não arriscar.

vv. 20-21 “ que o Senhor repare em vós e julgue... porque nos tornaste odiosos aos olhos do faraó”. Os escribas intentam um processo contra Moisés e Aarão, pondo Adonai em causa. Com isto renegam a autoridade de Moisés e Aarão e, consequentemente, a palavra de Adonai. Quiseram que Adonai estivesse ao serviço do faraó, em defesa de um status de opressão.

vv. 22-23 “Meu Senhor porquê… porquê … porquê? ” Moisés considera Deus responsável pelos acontecimentos. Por que é que Adonai faz sofrer este povo, que prometeu libertar e depois não o faz? É o drama do profeta, que não vê realizado o seu mandato. (Jer 15,10-11 e 15-18; 20,7-10).

A prece de Moisés é também prece de intercessão pelos pecados dos outros, que se repetirá em frente ao vitelo de ouro (Ex 32,11-14. 30-32), e que entrará na tradição bíblica (Sl 106,23).

Israel símbolo de cada pessoa humana, tem medo da liberdade, porque significa responsabilidade. Israel não entende que só Adonai, o deus da liberdade, torna os seus servos completamente livres.

Israel prefere permanecer parasita do sistema, do que tornar-se nómada no deserto. Seja por uma espécie de complexo de inferioridade, ou por uma secreta admiração, Israel procurará a sua segurança no seio dos seus opressores, Egipto ou Babilónia, Síria ou Roma.

Diante desta resistência interior. Deus não age, respeita a liberdade das suas criaturas.

Será a mesma a tentação da primeira igreja dividida entre judeus e cristãos provenientes do paganismo. Querendo anular o evangelho da liberdade proposto por Paulo em relação às obras da Lei (Gl 5,1-12), alguns cristãos reprovam a Paulo, como a Moisés, o minar a segurança do rebanho que lhes tinha sido confiado.

   

Tradução: Ana Luísa Teixeira

     
   

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