O Mito da construção da torre de
Babel mostra como toda a cidade que é construída prescindindo de
Deus, se auto-destrói. Tal insucesso é consequência do mau uso da
liberdade que o homem e a mulher receberam como dom. Deus, na sua
infinita misericórdia, e num acto totalmente gratuito, vem em seu
socorro.
Assim se inicia a história da
salvação
Deus começa por chamar Abraão e
formará depois um povo, o povo hebreu. Este deverá ser servidor fiel
da sua Palavra, para levar a toda a gente a fé no Deus único e
salvador.
O povo hebreu é originário da zona
Noroeste da Mesopotâmia, onde estavam imigrados os Aramaicos,
semitas.
vv. 10-26. Apresentam a
genealogia de Abraão, com um género literário antiquíssimo dito das
gerações. Esta genealogia sublinha a passagem de um discurso
mítico dos primeiros capítulos do Génesis à verdadeira história
(cerca 1850 a. C.).
O
Deus de Abraão é primeiro que tudo o Deus da História
vv. 27-32. A família de
Tera, pai de Abraão, vem apresentada como sendo originária de Ur
dos Caldeus na Mesopotâmia. A família emigra para se fixar em
Haran, a Norte da terra de Canaã. A incongruência histórica (os
Caldeus não existiam no tempo de Abraão) e a contradição com o v. 4
do c. 12, que considera Haran a pátria de Abraão, não a Ur dos
Caldeus, mostram-nos que há no v. 31 uma alusão propositada à
situação de Judá na segunda metade do século VI a. C. O evento a que
o autor alude é o retorno a Jerusalém dos exilados na região da
Babilónia, migração que realça a de Abraão, para tornar pertinente a
menção dos Caldeus e de Ur como ponto de partida.
Este retorno a Jerusalém (que
dista 1.800 km de Ur) no século V a.C. é visto pelos profetas e
teólogos do tempo como um segundo êxodo, uma segunda chamada,
depois da do Egipto (veja-se Isaías 41,8-14). Por isso é que se
encontra o verbo hebraico sair quando se menciona a cidade de
Ur dos Caldeus (veja-se Gn 11, 31 e 15, 7; Neemias 9,7 e Act
7,2-4 ).
A migração de Tera com Abraão e
Lot é a primeira migração sobre a estrada da terra prometida,
antecipação da migração/saída da terra do Egipto, de algumas
famílias hebraicas no século XIII, e exemplo a seguir para os
exilados na Babilónia do século V.
Segundo a interpretação hebraica,
a saída de Ur dos Caldeus é a saída de um mundo de idolatria.
Abraão é a anti-idolatria por excelência.
Génesis 12,1
• O Senhor disse... A expressão
usada é idêntica à do acto criativo de Deus (Gn 1, 3, 6, 9, 11,
14, 20, 24, 26). Para o autor, de facto, com o chamamento de
Abraão, Deus está continuando a criação, está criando uma nova
humanidade, que se deverá comportar de modo oposto à de Adão e Eva.
A palavra genérica Deus,
usada nos capítulos precedentes, vem substituída aqui pela termo
Adonai, o nome próprio do Deus de Israel, traduzido geralmente
pela palavra Senhor, que agora começa a manifestar-se e se
torna o sujeito da inteira história da salvação.
• vai... é o verbo da maior
parte das vocações /missões no Antigo Testamento. Deus revela-se com
uma ordem, ligada a uma missão para a seguir; é uma revelação
interior. Veja-se Ex 3, 9-10; Am 7,14-15; Os 1,2 e
3,1; Is 6,9; Jr 1,7.
No NovoTestamento, o verbo do
chamamento/ordem mudará, será: segue-me. Veja-se Mt 8,22;
9,9; Mc 1,17; 2,14; Lc 5,27; 9,59; 18,22; Jo 1,43.
Só num segundo tempo, àqueles que
o seguiram e se tornaram seus discípulos o Senhor dirá vão… o
mesmo verbo do Antigo Testamento. (Mt 28,18-19; Mc 16,15). Na
era cristã, de facto, é preciso primeiro que tudo seguir a Cristo
para se tornar descendência de Abraão (Gal 3,29).
A história da salvação começa com
um chamamento pessoal, não com um chamamento a um grupo ou a uma
comunidade.
O co-envolvimento
responsável da pessoa singular é fundamental na história da
salvação. Deus precisa disso.
O povo formar-se-á a seguir e será
Deus a formá-lo. Será assim também para a igreja, em que primeiro
foi chamado cada um dos discípulos e só depois da ressurreição de
Jesus se deu a descida do Espírito sobre a comunidade.
• contigo próprio…
expressão geralmente não traduzida na Bíblia, quer sublinhar a
responsabilidade da pessoa, que deve entrar no jogo. Abraão está só
diante da escolha de obedecer ou não a Deus bem como diante das
provas que encontrará no seu caminho. (veja-se Is 51,2). É a solidão
interior própria de cada chamamento.
• da tua terra, dos teus
parentes, da casa do teu pai… a mudança que é pedida é uma
mudança radical, um ir além, uma saída de, um largar (Sl 45,11).
Veja-se no Novo Testamento: Mt 4, 19-20 e 22; 19,27 e
29; Mc 1,18 e 20; 10,28; Lc 5,11; 18,28.
• para a terra que eu te
indicarei. Deus exige de Abraão uma total confiança nele. Abraão
deve partir sem saber onde Deus o levará. Abraão não tem nenhum
sinal no qual apoiar a sua própria fé; crê naquilo que não vê (Heb
11, 8-9). O acto de fé de Abraão é o protótipo de cada acto de
autêntica fé. Abraão é o pai de todos os crentes.
A palavra indicarei está no
futuro. Abraão viverá na expectativa das promessas que a pouco e
pouco Deus lhe fará.
Por isso, o tempo de Abraão,
como para todos os crentes, é o futuro.
As terras, que o Senhor indicará,
serão na realidade a terra de Canaan. Esta será a promessa feita a
Abraão de uma posse perene (Gn 17,8). É a terra para a qual o
autor do Génesis, do século IV a.C., quer levar os hebreus da
Babilónia a voltar, imitando a fé de Abraão.