© "Via sacra"  Bill Ross
 

Novembro - 2010

 

A Tua Palavra Ilumina os Meus Passos

 

Génesis

ADONAI DÁ UMA MULHER A ISAAC
Génesis c.24
   
Autora: Nicoletta Crosti
 

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Este capítulo foi introduzido tardiamente no livro do Génesis. Sugere-o a falta de referências geográficas precisas, geralmente presentes nas tradições antigas, assim como o título “Deus do céu e da terra”, que tem um carácter claramente universalista. O capítulo pretende dar duas mensagens teológicas:

1. Deus guia a história da salvação através de acontecimentos e coincidências banais.

Adonai, de facto, não tem necessidade de fazer milagres e não gosta de factos sensacionalistas. Só os olhos da fé fazem pressentir a presença de Deus face aos acontecimentos comuns. É este o conceito a partir do qual Israel se começa a afirmar no período do iluminismo salomónico.

2. A vida e a oração são imprescindíveis, constituem um todo.

A espiritualidade rabínica dirá: a aspiração a uma vida de fé desenvolvida é estar sempre na presença de Deus, caminhar sempre com Ele.

vv. 1-4 São as últimas palavras de Abraão. O juramento sobre as partes genitais, ligado à descendência e à vida era um antigo costume (Gn 47,29) que depois desaparecerá.

Depois da morte de Sara, Deus quer que a história da salvação continue. Mas o casamento com mulheres pagãs idólatras era proibido, porque facilmente teriam feito desviar a fé dos maridos hebreus (Ex 34,12-16; Dt 7,1-4).

vv. 5-9 Abraão é peremptório em não querer que Isaac deixe a terra prometida, que Adonai quer dar à sua descendência. Abraão, como sempre, confia em Deus, Ele próprio enviará o seu anjo diante de ti (v.7) e sabe que Deus intervirá a seu favor.

v. 10 o servo… foi pelas regiões dos dois rios, à cidade de Naor. É a zona de Haran, na Mesopotâmia superior, onde o rio Balih aflui ao grande Eufrates. A localidade onde Naor, irmão de Abraão, vive com a sua tribo (Gn 11,27). Israel sabia-se aparentada com o povo aramaico.

v. 12 E disse: Senhor, Deus do meu patrão Abraão, concedei-me um encontro feliz… O servo antes de passar à acção reza, pondo tudo nas mãos de Adonai.

v. 14 … a jovem a quem direi: baixa a ânfora… e que responderá: bebe, também darei de beber aos teus camelos… seja aquela que tu destinaste… O servo usa um critério normal de escolha: a prontidão feminina em dar ajuda, e uma sensibilidade às necessidades dos animais. O servo espera que a escolha de Adonai corresponda à sua. Não aconteceu nenhum prodígio, como, por exemplo, o de Gedeão com a lã. (Jz 6,36-40).

vv. 15-20 Não tinha ainda acabado de falar… rapidamente baixou a sua ânfora… rapidamente esvaziou a ânfora no bebedouro… Naquele instante a prece é escutada, é ainda uma coincidência querida por Deus. A bênção de Deus vai para além da prece do servo, Rebeca era também bela e familiar próxima.

v. 21 … à espera de saber se o Senhor lhe tinha concedido ou não o bom sucesso da sua viagem. Esta expressão é a palavra chave de todo o capítulo. A concessão de bom êxito às suas próprias acções é a esperança do crente, que deve sempre ser mantida viva. Mas também deve estar pronto para aceitar o contrário, porque consciente de poder não ser capaz de saber o que é melhor para si e para os outros.

vv. 22-25 Neste ponto, o servo age, comprometendo-se, e dá as jóias à jovem. Quer seduzi-la para Isaac e só depois a pedirá à sua família. O pai de Rebeca aqui é Betuel, enquanto que no v. 48 é Naor. Provavelmente estão aqui duas tradições diferentes integradas na narrativa.

vv. 26-27 Aquele homem inclinou-se, prostrou-se e adorou ao Senhor dizendo: bendito seja o senhor, Deus do meu patrão Abraão que não cessou de usar a benevolência… Para o servo, a oração e a vida entrelaçam-se. A espiritualidade hebraica pede a cada hebreu pelo menos cem bênçãos por dia. Uma grande ajuda para permanecer continuamente na presença de Deus.

vv. 29-32 O autor apresenta Labão como pessoa venal, atraído pelas riquezas e por isso hospitaleiro para aqueles que lhe dessem presentes valiosos.

v. 33-38 Não comerei até ter dito aquilo que devo dizer ... o Senhor abençoou o meu patrão ... Sara deu-lhe um filho… O servo explica a razão da sua viagem. Não falou da proibição de levar Isaac para Haran, porque sabia que seria uma ofensa para a família de Rebeca. O servo faz com que se intua que a família de Rebeca terá uma lauta compensação porque Abraão é rico e Isaac parece ter-se tornado no herdeiro de tudo.

v. 39 Talvez a mulher não me siga… É a dificuldade habitual de todas as vocações, incluída para fazer com que o leitor percebe que a vocação não foi inventada pelo sujeito envolvido (Ex 3,9-11; Lc 1,34-35).

v.40 O Senhor em cuja presença caminho… O autor quer falar bem de Abraão.

vv. 42-49 Todo o discurso do servo aponta para concluir que o desenvolvimento dos factos mostra que é Deus que quer este casamento. Por isso é sublinhada a resposta imediata de Deus à sua prece. A prontidão da resposta da jovem corresponde ao de imediato do apelo de Jesus (Mt 4,19-22). Para colocar em primeiro plano a parentalidade da jovem no v. 47, o servo inverte os factos acontecidos; primeiro de facto tinha dado as jóias e depois tinha perguntado a Rebeca quem ela era.

v. 50 É do Senhor que tudo isto procede… A habilidade do servo obtém o resultado esperado. Labão, o irmão de Rebeca, e Betuel , o pai, sentem-se obrigados a dizer sim e concedem Rebeca como esposa.

v. 52 Perante o sucesso da sua viagem novamente o servo reza (Sl 145/144).

vv. 54-56 O servo tem pressa de voltar a casa para concluir o seu mandato e contradiz aqui o estilo oriental.

vv. 57-59 Chamemos a jovem e perguntemos-lhe… Aqui recorda-se o desejo da jovem. Rebeca consente. Segundo os costumes do tempo era a família que decidia o casamento.

v. 60 Os votos correspondem aos costumes orientais: passa a tornar-se mãe de uma espécie grande e guerreira.

v. 62 Entretanto Isaac regressara do poço de Lacai-Roi. Não está claro onde acaba a viagem. Abraão vivia em Hebron, mas Lacai-Roi (Gn 16,14) fica muito mais a sul. É estranho que não se fale de Abraão onde todo o relato tem origem. Teria morrido entretanto (v. 36)?

v. 67 Isaac… recebeu por mulher Rebeca e amou-a. O autor quer sublinhar que a história da salvação continua segundo um plano pré-determinado de Deus, que dá a Isaac uma mulher. Aquilo que conta é a descendência de Abraão; a referência à tenda de Sara é isto que significa.

   

Tradução: Ana Luísa Teixeira

   

   

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