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Fevereiro|Março - 2011

 

A Tua Palavra Ilumina os Meus Passos

 

Génesis

Adonai Renova as suas Promessas a Isaac
Génesis 26, 1-11
   
Autora: Nicoletta Crosti
 

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Este capítulo agrupa alguns acontecimentos que dizem respeito a Isaac. Este é apresentado como o legítimo sucessor de Abraão, do qual, em parte, repete a biografia. São poucas as tradições que o mencionam, será este o único capítulo que o refere.

Isaac representa o tipo de nómada, que possuindo gado miúdo, move-se com os seus rebanhos segundo as leis de alternância das pastagens.

v. 1 Sobreveio uma fome naquela terra… Na Palestina a seca era frequente e geralmente os nómadas desciam ao Egipto para superar a crise.

v. 2 Não desças ao Egipto, habita a terra que eu te indicar. Deus não permite que Isaac emigre. Quer que os patriarcas se liguem à terra da Palestina.

v. 3-4 Vive aí durante algum tempo como estrangeiro e eu estarei contigo e abençoar-te-ei… pois é a ti e à tua descendência que eu darei toda esta terra e manterei o juramento. São repropostas as promessas já feitas a Abraão: a da terra (Gn 12,7; 13, 14-17; 15, 18; 17,8), a da descendência (Gn 12,2.7; 15,5; 17,2-8; 21.12; 22,17), a da aliança (Gn 15, 7-21;17,1-8) e a da bênção (Gn 12, 3; 22,17).

Permanecer como estrangeiro significava verdadeiramente viver numa situação precária, Adonai disse a Isaac: “eu estarei contigo”. Isaac, como Abraão, deve confiar em Deus e apoiar-se n’ Ele.

v. 5 …pelo facto de Abraão ter escutado a minha voz e observado os meus ensinamentos. Este conceito vem retomado no Novo Testamento (Ro 4, 3; 11; 16-22; Gl 3, 6-9). A fé de Abraão permitiu a Deus iniciar a história da salvação.

A história da salvação procede de Deus, mas não pode prosseguir sem o contributo da livre vontade dos homens e das mulheres que dão consentimento aos Seus planos.

vv. 6-11 Vem reproposta através de Isaac a mesma tradição que, por duas vezes, foi referida a Abraão; Isaac mente relativamente à sua mulher para poder salvar a vida.

v. 7 ele disse-lhes: é minha irmã. De acordo com tudo o que Deus lhe tinha pedido, Isaac ficou na cidade de Gerar (v.6). Aqui os costumes eram muito menos rígidos, e para os nómadas a vida da cidade era imoral. Facilmente Isaac poderia ser assassinado para que depois pudessem abusar da sua mulher, uma mulher atraente (v.7). O autor não tem escrúpulos de apresentar, como já o tinha feito com Abraão, um patriarca mentiroso. A história da salvação tem mais necessidade dos homens que confiam em Deus e que aceitam os seus planos, do que dos homens moralmente irrepreensíveis, segundo a nossa ética.

Não é por acaso que o autor indica que o lado da razão seria o da falsidade: (vv.7 e 9): ter salvo a vida.

v. 8 ...e viu Isaac acariciar sua mulher Rebeca.

O autor quer desmascarar a falsidade de Isaac e fá-lo através de Abimelec, que observa e suspeita.

v.9 responde-lhe Isaac: porque disse a mim próprio: que eu não morra por causa dela. Isaac admite a mentira e dá a sua razão.

v. 9 Que fizeste? É a pergunta que mostra a honestidade do rei e a culpa de Isaac. Pergunta-chave que Deus já tinha feito a Eva e a Caim (Gn 3,13; 4,10). Pergunta que exige uma resposta, levando o interpelado a dar-se conta da gravidade do seu acto e das consequências negativas que ele produz.

Deus quer que o homem se comporte sempre como criatura responsável.

v. 11 Quem tocar neste homem ou na sua mulher será levado à morte. Abimelec exige dos seus súbditos o pleno respeito do dever da hospitalidade. O autor quer que seja claro para todos que violar ou assassinar é um pecado gravíssimo, até para os pagãos (Es 20,14; Dt5,18; Dt 22,22; Lv 18,20).

TRÊS NARRATIVAS DE UMA ÚNICA TRADIÇÃO
Gn 12, 11-20; Gn 20; Gn 26,6-11

A presença no livro do Génesis de três narrativas nascida de uma única tradição ajuda-nos a entender a mentalidade dos autores bíblicos. Estes queriam, por um lado, manter-se fieis ao conteúdo fundamental da narrativa oral, mas, por outro lado, sentiam-se livres para mudar o contexto, as personagens e os pormenores secundários.

Assim vê-se que:

- As personagens envolvidas são diversas: Abraão e o Faraó, Abraão e Abimelec, Isaac e Abimelec.

- O contexto muda: no Egipto, em Gerar entre os Filisteus; em Gerar durante um período de fome.

- O disfarce da mentira é diferente: pragas, diálogo entre Deus e Abimelec, Abimelec que vê a manifestação de afecto de Isaac para com Rebeca.

Só no Egipto o adultério se consuma, as outras narrativas deixam apenas pressupor o risco de que tal possa acontecer.

O núcleo da narrativa dizia: 1. Um patriarca tinha mentido para salvar a vida; 2. O Senhor considera culpa grave cometer adultério, abusar da mulher de outrem. 3. O drama tem um final feliz.

Qual é o Deus que é revelado?

O discurso sobre Deus é o mesmo nas três narrativas.

• Adonai é um Deus que protege quem nele confia, não lesando a sua liberdade e as suas iniciativas. Deus espera que os homens e as mulheres saibam afrontar com coragem todos os acontecimentos, utilizando até ao fim e na totalidade os talentos recebidos.

• Adonai é um Deus que ensina a sacralidade do matrimónio a todos, hebreus e pagãos. A palavra unir-se-á (davâq) do Gn 2,24 (o homem… unir-se-á à sua mulher e os dois serão uma só carne) é a mesma palavra usada para exprimir a relação de amor que liga o fiel a Deus. (Dt 10,20). A relação de amor do casal torna-se, então, símbolo da relação de amor da criatura com o seu Deus. Por isso o adultério e a infidelidade não são admitidos.

• Adonai é um Deus que não quer a morte do pecador, mas quer que ele se converta e viva (Ez 18,23). Por isso, a pergunta dirigida ao patriarca: “Que fizeste?”, afim de que ele se dê conta que mentir é mal, que gera outro mal e, por consequência, não volte a mentir. (Ex 20,17; 23,7).

   

Tradução: Ana Luísa Teixeira

   

   

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