© "Via sacra"  Bill Ross
 

Maio - 2011

 

A Tua Palavra Ilumina os Meus Passos

 

Génesis

Através de Isaac
Adonai manifesta a sua santidade
 aos filisteus
Génesis 26, 26-35
   
Autora: Nicoletta Crosti
 

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Repete-se com Isaac o episódio já ocorrido com Abraão (Gn 21,22-27); o rei Abimelec quer fazer uma aliança.

v. 26 Então Abimelec foi de Gerar ao seu encontro… O rei Abimelec, por sua conveniência, decide ter boas relações com Isaac, que agora se tornou um vizinho rico. Para demonstrar a sua deferência faz-se acompanhar de pessoas importantes.

v. 27 Porque vieram junto de mim, vós que me odiais e me expulsastes de entre vós? Isaac está espantado com a visita e põe a claro a contradição do seu comportamento.

v. 28 Já vimos que o Senhor (Adonai) está contigo… estabeleçamos uma aliança. Os Filisteus arrependeram-se de ter expulsado Isaac, pois viram a bênção contínua que Deus lhe concede. Reconhecem o poder e a bênção de Adonai, o Deus estrangeiro que está com o seu fiel. Disseram abertamente: tu és agora um homem abençoado pelo Senhor (v.29). E por isto querem fazer-se amigos de Adonai através de Isaac. Os Filisteus não se converteram ao Deus de Israel, mas reconhecem-no e respeitam-no.

A insistência no verbo ver, repetido duas vezes no texto hebraico (vendo, tendo visto), é uma alusão ao tema da “santificação do nome de Deus perante os Gentios ”. Estes vêem os frutos da santidade de Adonai. De facto, a santidade de Isaac, que obedece ao Senhor e confia n’ele, chama sobre si as bênçãos de Deus (Dt 11, 26-28), fazendo nascer à sua volta uma situação “redentora”. Mas a santidade de Isaac vem de Deus, e é então Deus que se manifesta através de Isaac. Na linguagem bíblica diz-se: Deus fez santo o seu nome perante os Filisteus.

Cada vez que Deus faz participar os homens e as mulheres da sua santidade, tornando-os capazes de seguir as suas vias (Lv 22,32; Ez 28,25-26; 36,21-27), Deus santifica o seu nome.

Esta teologia é retomada por Jesus na invocação do Pai-nosso, relatado pelos evangelistas (Mt 6,9-13; Lc 11,2-4). A palavra santificar está no passivo, santificado seja o seu nome, e foi considerado pelos exegetas um ‘passivo teológico’, que tem Deus como sujeito. É ele o protagonista, que todavia necessita da abertura do coração do que crê n’ele para produzir frutos de santidade (Sl 94/95, 8).

v. 29 Não te fizemos senão o bem. O estilo diplomático requer esta expressão, que de facto constitui uma hipocrisia, tendo os Filisteus expulsado Isaac das suas terras (v.16).

v. 30-31 Então ofereceu-lhes um banquete… prestaram juramento um ao outro… e afastaram-se em paz da sua presença. Isaac não hesita em fazer de imediato a aliança com Abimelec. A aliança é estabelecida de acordo com os costumes, com um banquete solene que sublinha as boas relações que agora foram criadas e com os juramentos rituais da manhã. A aliança convém também a Isaac que tem assim um bom vizinho numa zona fértil.

v. 32 Naquele próprio dia … disseram-lhe “encontrámos água”. Continuam as bênçãos do Senhor. O juramento de paz selado com Abimelec agrada ao Senhor e começará a fazer parte da história da salvação.

v. 33 Chamou-lhe Chiba; por isso é que a cidade se chama Bersabé. ‘Chiba’ em hebraico significa sete, mas não se fazendo aqui nenhuma referência ao número sete (veja-se pelo contrário em Gn. 21, 28-31), pensa-se que a vocalização do texto masorético esteja inexacta e que se deva concluir que significando a palavra shebea ‘juramento’ se deve interpretar o nome da cidade como “poço do juramento”. Isto lido na versão grega dos Setenta.

v. 34-35 Estes dois versículos sobre as mulheres pagãs de Esaù são para relacionar com o v. 46 do capítulo 27, onde Rebecca exprime todo o seu desapontamento pela escolha errada deste seu filho. O relato do próximo capítulo, que trata da bênção de Isaac arrebatada ao seu outro filho Jacob, é incluído nestes versículos para desacreditar a figura de Esaú, que não segue a norma hebraica de escolher a própria esposa entre as hebreias. Norma muito estrita após o exílio da Babilónia no séc. VI a.C.

ISAAC DÁ A BÊNÇÃO PATRIARCAL A JACOB

Génesis 27,1-4

O autor utiliza uma saga antiga (a história desenvolve-se no âmbito estritamente familiar), que mostra a sagacidade dos antepassados, de Jacob. Na origem, a narrativa tinha o propósito de exaltar a supremacia de Israel nos confrontos com Edom, a tribo que lhe era tradicionalmente adversária. Mas aqui o autor bíblico utiliza-a para o seu discurso teológico, que diz respeito à história da salvação.

A história da salvação contém no seu interior um mistério.

O Apocalipse apresentará a história como um livro secreto, fechado, um livro codificado, que só o Cordeiro morto e ressuscitado tem a capacidade de decifrar (Ap 5,1-10).

No Gn 25,23 encontra-se uma obscura profecia que respeita à rivalidade entre Esaú e Jacob.

O tema central do capítulo é a bênção. A raiz do termo abençoar é citada 21 vezes (3X7), números de plenitude. A expressão “que a minha alma te bendiga” liga-se à antiquíssima concepção de bênção, vista como uma passagem aos outros de uma força espiritual que age de modo mágico. É um acto decisivo e irrevogável. É o bem tranquilamente esperado por Esaú e astutamente insidiado por Jacob.

v. 1-2 Isaac estava velho… e já não via. Chamou o filho mais velho Esaú…. Como vês, estou velho e desconheço qual será o dia da minha morte. Isaac sente a proximidade da morte e sabe que deve assegurar a continuidade da linha patriarcal.

vv. 3-4 …tomas as tuas armas, a alijava e o arco … traz caça … traz-me de comer para que te bendiga antes de morrer. Resulta claro que se trata de uma bênção testamentária, ligada ao direito de primogenitura. Isaac comporta-se de maneira incorrecta, dá a bênção em privado num contexto que parece ligado apenas ao subjectivo prazer dos sentidos. Deveria ter dado a bênção na presença dos familiares e depois de ter orado ao Senhor. Pagará as consequências de tal incorrecção.

   

Tradução: Ana Luísa Teixeira

   

   

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