© "Via sacra"  Bill Ross
 

Outubro - 2011

 

A Tua Palavra Ilumina os Meus Passos

 

Génesis

Jacob torna-se pai de doze filhos,

antepassados epónimos das tribos de Israel

Génesis 29,31-35 e 30,1-24
   
Autora: Nicoletta Crosti
 

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Alguns historiadores pensam que, no tempo dos Juízes (século XIII a.C.), Israel era uma espécie de aliança sagrada de diversas tribos, uma “anfictionia”.  O vínculo entre as tribos era religioso, não político. Consistia na adoração colectiva de um único Deus e na submissão aos seus mandamentos. As várias tribos encontravam-se num santuário comum, onde celebravam juntos as festividades. O capítulo 24 de Josué dá uma ideia de como era escolhido um santuário comum. No governo do santuário, as tribos eram representadas por um colégio de 12 “príncipes”. A esta instituição cultual da época dos juízes se referiria o autor que torna Jacob pai de 12 filhos, os antepassados epónimos das 12 tribos de Israel.

Outros historiadores pensam, pelo contrário, que foram os 12 intendentes estabelecidos por Salomão (1Rs 4,7) a influenciar e determinar, em data tardia, o número decidido das 12 tribos de Israel (Nm 1,5-15; 26,5-31; Esd 6,17; Ez 47,13).

Estes filhos são irmãos entre si porque têm um único pai, mas têm mães diferentes (Gn 35,22-26). Nos capítulos 29 e 30, nasceram apenas 11 filhos, o décimo primeiro nascerá mais tarde de Raquel (Gn 35,16-18).

Desde os tempos antigos que o número 12 foi símbolo de totalidade e completude, mais do que um dado real. O ano tem 12 meses, o zodíaco é formado por 12 signos. Também no Novo Testamento, o número 12 mantém o mesmo significado simbólico: os 12 apóstolos (Mt 10,1-4), os 12 cestos (Mt 14,20), as 12 legiões de anjos (Mt 26,53) e várias vezes no Apocalipse (12,1; 4,4; 7,4; 14,1-3; 21,12.21; 22,2 ).

v. 31 Vendo o Senhor que Lia não era amada, tornou-a fecunda, enquanto Raquel permanecia estéril. Em hebraico a expressão é mais forte, Lia era odiada. Como já foi lembrado, a prática da poligamia provocava com frequência situações de ciúme entre as mulheres; de facto o marido tinha sempre preferências. Por isso, em Dt 21,15-17 se regula o direito de primogenitura.

Aqui, Adonai intervém para reequilibrar uma situação injusta

v. 32 Lia… deu à luz um filho, ao qual deu o nome de Rúben [filho-vede]... “O Senhor olhou para a minha humilhação.”  O autor quer passar a mensagem de que os filhos de Lia são duplamente queridos por Deus, porque é ele que faz gerar e porque é ele que vem fazer justiça.

v. 33 Concebeu outra vez e deu à luz um filho… “O Senhor, ouviudeu-me…” E deu-lhe o nome de Simeão [aquele que escuta].

vv. 34-35 Lia dá à luz mais dois filhos, Levi (acrescido) e Judá (aquele que louva).

Os nomes dos filhos de Jacob são explicados artificiosamente; não são verdadeiras etimologias, mas alusões livres suscitadas pelo contexto e a que os leitores acham graça porque eram jogos de palavras, que se perdem na tradução.

Capítulo 30, v. 1 Vendo que não dava à luz… Raquel começou a ter inveja da irmã. Começa a rivalidade entre as duas irmãs: Raquel é a mais bonita e é preferida, mas é estéril; Lia é menos atraente e menos amada, mas é fecunda. As duas rivalizam para conquistar a metade que lhes falta; Lia o amor do marido, Raquel os filhos.

vv. 2-5 Raquel comporta-se segundo a tradição como já fizera Sara (Gn 16,1-4). Querendo a todo o custo ter um filho, pede a Jacob que se una à escrava Bila para ter um filho dela, que seria depois dado à luz sobre os joelhos de Raquel.

v. 6 Raquel disse, então: “Deus fez-me justiça, escutou a minha voz e deu-me um filho”… deu-lhe o nome de Dan [ele fará justiça].

v. 7 A escrava Bila dá à luz um segundo filho, a quem Raquel chamará Neftali (minha luta) para recordar que tinha tido de lutar com a irmã para vencer.

vv 9-13 Então é a vez de Lia não dar mais à luz e diz a Jacob para se unir com a escrava Zilpa que dá à luz Gad (fortuna) e Aser (feliz).

v. 14 Raquel disse a Lia: “Dá-me, por favor, parte das mandrágoras do teu filho.” As mandrágoras eram afrodisíacos e pensava-se que aumentariam a fertilidade. Continua a rivalidade entre as duas irmãs.

vv 15-16 Raquel retorquiu: “Pois bem, em troca das mandrágoras do teu filho, que ele fique contigo esta noite.” Raquel continua a desejar ter um filho verdadeiramente seu e faz tudo o que pode, come a mandrágora, pronta a dar em troca o seu marido à irmã. Mas o filho só o verá quando Deus o conceder.

vv. 17-20 Deus ouviu Lia, que concebeu e deu um quinto filho a Jacob. É sempre o Senhor que concede os filhos. Lia dará à luz Issacar (salário-homem) e, depois, Zabulão (presente?)

v. 22 Deus recordou-se de Raquel… e tornou-a fecunda. Chega também o momento de Raquel. Aqui repete-se o esquema da matriarca estéril que, por intervenção de Deus, se torna fecunda.

v. 23 Ela disse: “Deus apagou a minha vergonha.” O amor de Jacob não bastava a Raquel, que, segundo a mentalidade do tempo, tinha um motivo de vergonha, por não ter filhos.

v. 24 E chamou-lhe José. O nome (ele acrescerá) exprime o desejo de que não seja o único filho, e assim será.

Neste capítulo, o autor quer sublinhar, mais uma vez, que é Deus quem constrói a história e a casa de Israel. Como? Vendo, escutando, dando, recordando-se.

Adonai é aquele que vê. Nada escapa ao seu acto criador desde então (Gn 1,10.12.18.21.25.31; 6,5.12; 18,21; Ex 3,4.7; Sl 10,14; Jr 23,24; Mt 6,4.6.18).

Adonai é aquele que escuta. Escuta o grito do sofrimento e intervém fazendo justiça ou perdoando (Ex 2,23-24; 6,5; 22,22; Dt 26,7; Js 10,14; 1Rs 9,3; 8,23-24; Jo 11,41-42; 1Jo 5,15)

Adonai é aquele que dá. Aos progenitores e aos Israelitas dá o alimento (Gn 1,29.30; 9,3; Ex 16,8.15.29.32), aos patriarcas a terra (Gn 12,7; 13,15; 17,8) e a descendência (Gn 15,5; 22,17), a Israel “o coração novo” (Ez 36,26), à multidão o pão do céu, o verdadeiro (Jo 6,32), àqueles que lho pedem o Espírito Santo (Lc 11,13).

Adonai é aquele que se recorda. De Noé (Gn 8,1), de Abraão (Gn 19,29), de Raquel (Gn 30,22), dos Israelitas (Ex 6,5), de Ana (1Sm 1,19)… do ladrão arrependido (Lc 23,42).

   

Tradução: Rita Veiga

   

   

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