No capítulo
anterior, o narrador tinha mostrado a presença constante do Senhor e das
suas bênçãos em José, um escravo de Potifar, no Egipto. Agora, neste
capítulo, inicia a história da maior bênção, a libertação de José da sua
escravidão. A libertação não chega através de um milagre.
O Senhor geralmente não age através de acções
milagrosas,
mas através do quotidiano da vida.
Neste
capítulo, José prova que ainda é um homem responsável, sábio, que está
envolvido na acção e descobre que tem o carisma de interpretar sonhos.
vv. 1-3
Descrevem os antecedentes. O copeiro-mor e o padeiro-mor, pessoas
importantes, pecam contra o seu senhor, o rei do Egipto. Isso coloca-os
em residência forçada na casa do capitão da guarda, onde estava José.
v. 5
(…)
tiveram os dois um sonho, que tinha um significado especial. Na
tradição judaica os sonhos podem ser ilusões humanas e divagações (Sr
34,1-2, Jr 23,25-32) ou teofanias (Gn 20,3, 28,12-15) ou
profecias divinas expressas em linguagem simbólica. O último precisava
de um intérprete inspirado para a sua interpretação (Dn 2,24-30). No
entanto, a adivinhação e a necromância ao estilo pagão eram usualmente
negadas, pois apelavam a outros deuses e afastavam de Adonai (Dt
13, 2-6;. 18,10-14, Lv
19, 26,31, Actos 13, 6-12).
v. 6-8aJosé aproximou-se deles… porque tendes hoje a face tão triste?…
Tivemos um sonho… Raramente na
Bíblia os autores se detêm a mencionar emoções, mas aqui o autor quer
realçar a bondade de José que se “faz próximo” dos presos. Estes
sentem-se perturbados pelos seus sonhos que não entendem.
v. 8b
José disse-lhes Não é verdade que o poder de interpretação dos sonhos só
a Deus pertence? É
uma frase polémica contra as interpretações mágicas, as adivinhações
pagâs. José refere-se a Adonai, o único que pode interpretar os sonhos.
Para Israel, a previsão do futuro estava nas mãos de Deus e, portanto,
interpretar sonhos era um carisma concedido pelo próprio Deus. Aqui
José, ao ler os sonhos, encontra-se na mesma situação dos profetas que
liam os acontecimentos históricos no sentido determinado por Deus.
vv. 9-11
Vem narrado o sonho do copeiro-mor, que fala de uma videira, de uvas
maduras e do copeiro que as espreme no copo do faraó.
vv. 12-13
José dá a interpretação: depois de três dias Faraó iria
restituir-lhe o cargo.
vv. 14-15Faça-me o favor… de me fazer sair desta casa. José como um homem
sábio tenta encontrar uma forma humana de sair do cárcere, pede um favor
e destaca a injustiça da sua situação.
vv. 16-19
Vem relatado o sonho do padeiro-mor e dada a interpretação de José:
o teu senhor te levantará a testa cima dos
ombros e depois te enfiará num poste.
vv. 20-22
O previsto nas palavras de José acontece, demonstrando a precisão de
sua interpretação.
Capítulo 41, 1-36
vv. 1-7(…)o faraó sonhou… saíram do Nilo 7 vacas com bom aspecto… e
depois 7 outras vacas…com mau aspecto… devoravam as sete belas vacas.
A este sonho sucede outro similar que vem do mundo vegetal: algumas
espigas raquíticas devoram as espigas gradas.
v.8De manhã o seu espírito estava perturbado e convocou todos… mas
nenhum os sabia interpretar. O faraó sente que são sonhos
premonitórios e tem medo, mas segue o caminho errado. De facto o faraó
decide-se pela adivinhação pois pensa que a inteligência do homem é
capaz de interpretar os sonhos.
vv. 9-13Assim como ele interpretou assim aconteceu. O copeiro-mor
recorda-se de José e das suas interpretações exactamente conformes ao
acontecido.
vv. 14-15Então o faraó chamor José… tive um sonho… José responde ao faraó: não
eu! Deus é que dará a resposta salutar para o faraó Esta frase de
José tem um forte significado teológico. É veementemente enfatizada a
diferença entre a adivinhação profissional pagã e a iluminação
carismática que só pode vir de Deus.
O crente que recebe carisma sabe que ele é só um
instrumento, um canal de graça.
Não é o seu espírito mas o Espírito de Deus que opera
nele.
Nesta linha
também S. Paulo (I Coríntios, 15,10).
vv. 17-22
São repetidos os sonhos já descritos.
vv. 25-32O sonho do faraó é um só: aquilo que Deus vai fazer …A
interpretação não é baseada em significados escuros e misteriosas, mas
tudo se torna simples, até mesmo o repetir de sonhos que indicam o que
proximamente acontecerá. Estão a chegar anos de abundância seguidos por
anos de fome. Com a interpretação do sonho realiza-se a bênção dada a
Abraão (Gn 12,2-3), que através dos patriarcas chega a José e
agora ao faraó do Egipto.
Podemos ver
que Adonai é o salvador não só de Israel, mas também de um país pagão
como o Egipto. Diversas vezes no A.T. Adonai abençoa todos os povos (Sir
44,21) e os salva (Sl 87/86, Is 19,21-25, 66,18 a 20).
vv.
33-36Agora pense o faraó em encontrar um homem inteligente e
sábio… e proceda na instituição de funcionários… José comporta-se
como conselheiro de um chefe de estado. Faz mais do que lhe é pedido.
Não só interpreta os sonhos, mas sugere uma maneira de sair da crescente
ameaça da fome. A solução proposta não era conhecida na Palestina, mas
já era conhecida no Egipto.