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Setembro - 2013

 

A Tua Palavra Ilumina os Meus Passos

 

Génesis

MAIS UMA VEZ DEUS ESCOLHE OS MENORES

Génesis, capítulo 48

  

Autora: Nicoletta Crosti

 

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No capítulo 48, trata-se das duas tribos de Efraim e Manassés. Os autores do livro do Génesis têm de justificar a presença destas duas grandes tribos, entre as 12 tribos do povo hebreu ainda que, segundo a tradição, os dois heróis epónimos não fossem os filhos de Jacob, mas de José. Estas duas tribos viviam num grande território na zona central da Palestina, entre o Mar Morto e o Mar da Galileia. Os autores, constroem então uma adopção legal dos dois filhos de José por parte de Jacob.

Não é por acaso que neste capítulo Jacob é chamado Israel com mais frequência. A insistência serve para elogiar o fundador das 12 tribos e, por consequência, do povo hebreu. Na verdade, Israel é o novo nome que Deus deu a Jacob, porque ele tinha lutado com Deus e com os homens e tinha vencido (ver Gn  32, 29). O tema é retomado em Gn 35,10.

v. 1 Eis que teu pai está doente. José sabe que seu pai é idoso e que esta doença precede a morte. Para isso apressa-se a levar-lhe os seus dois filhos nascidos no Egipto de Arsneth (Gn 41,50-51) que recebem a bênção do patriarca, especialmente o mais velho, Manassés, que teria assim um futuro abençoado por Deus

vv. 2-4 Então Israel reuniu todas as suas forças… e disse a José… Deus omnipotente apareceu-me… multiplicar-te-ei… darei esta terra à tua descendência. O momento é solene, Jacob percebe que está prestes a morrer, pois recorda o acontecimento da Luz (Gn 28, 10-20), citando as duas grandes promessas, a de descendentes e a de terra, que deve passar aos descendentes.

vv. 5-6 Efraim e Manassés serão meus. Jacob decide fazê-los seus ou seja, adoptar os dois filhos de José. Distingue assim os dois primeiros filhos de José daqueles que lhes seguirão. Desta forma, integra-os de pleno direito na família patriarcal, apesar de filhos de mãe egípcia.  

v. 7 Raquel a tua mãe morreu-me… Este versículo está completamente fora do contexto, talvez para justificar a adopção.

vv. 8-10 Israel viu os filhos de José… trá-los para que eu os abençoe. Reinicia a narrativa de acordo com uma outra tradição que se seguirá de uma forma mais homogénea do que a precedente. É uma cena familiar, com a observação de que Jacob tinha-se tornado frágil da vista. Com este detalhe prepara-se a cena que se seguirá. Note-se a expressão de José, os filhos que Deus me tem dado aqui. Não diz, como qualquer pai diria hoje: "São meus filhos."

Todo o bom hebreu está convicto que tudo é dom de Deus.

v. 11 Deus concedeu-me ver a tua prole. A referência a Deus é constante.

 vv. 12-13 José… prostrou-se… tomou Efraim… à esquerda de Israel e Manassés à direita. Prepara-se a cena da bênção que para os antigos era um acontecimento muito importante. Era um autêntico ritual ligado a Deus e a valores espirituais, segundo os quais a bênção teria um carisma próprio e geralmente conduziria ao sucesso. Nunca ninguém poderia cancelar a graça da bênção. A fonte da bênção era naturalmente Deus. Segundo uma tradição arcaica, a bênção deveria ser dada com a mão direita e ao filho mais velho. Por isso José coloca os filhos já na posição devida.

v. 14 Mas Israel estendeu a sua mão direita… sobre a cabeça de Efraim… cruzando os braços... Inesperadamente Jacob inverte a tradição e dá a bênção ao filho mais novo.

vv. 15-16 O Deus perante o qual caminharam os meus pais… e que tem sido o meu pastor e… abençoe estes jovens… multiplicar-se-ão em grande número… faz-se claramente referência ao Deus dos Patriarcas. Estes tinham como característica o seu “ caminhar perante Deus” segundo o convite feito pelo próprio Deus: “Caminha à minha frente” (Gn 17,1). Isto significa estar sempre na presença do Senhor, seguindo os seus desejos. O anjo do Senhor de que se fala é o próprio Deus, visto como o libertador de origem familiar, o que é o goel, o parente com o poder de libertar quem na família tinha sido tornado escravo, resgatando-o (Lv 25,25).

vv.17-18 Não assim meu pai… José irrita-se justamente vendo as coisas serem feitas ao contrário e o filho mais novo receber a bênção. Pensa que Jacob não se dá conta do que está a fazer.

vv. 19-20 Mas o pai disse: eu sei meu filho, eu sei… e abençoou-os. O autor quer sublinhar a liberdade de Deus nas suas escolhas e na sua preferência por quem é considerado menor aos olhos dos homens. É um tema recorrente em toda a Bíblia. Veja-se em Juízes 6,15 a propósito de Gedeão, Dt7,7 a propósito de Israel o mais pequeno de entre todos os povos, Miqueias 5,1 a propósito de Belém a mais pequena entre os clãs de Judá. O tema é retomado no N.T. Quem for maior entre vós que seja como o menor (Lc 22,26); Deus escolheu aqueles que são frágeis no mundo para confundir os fortes (1Cor 1,27-29).

A graça de Deus não pode ser aceite por aqueles que já estão cheios de si mesmo.

Historicamente a tribo de Efraim prevalece sobre a de Manassés até ao ponto em que a expressão Efraim foi usada para designar todo o reino do Norte (Jer 31,6. 18. 20; Sl 78, 60.67).

v. 20 De vós servir-se-á Israel para abençoar… Pela primeira vez aparece o nome de Israel como povo.

v. 21 Deus estará convosco e vos fará retornar… Está a preparar-se o livro do Êxodo com a realização das promessas e a entrega do nome impronunciável, o tetragrama YHWH, que os hebreus leram a Adonai.

v. 22 Não se explica a referência à “parte de trás do monte” conquistado. Talvez todo o acontecimento, inclusivamente a morte de Jacob, tenha ocorrido na Palestina e não no Egipto

  

Tradução: Ana Luísa Teixeira

  

  

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