Um Olhar Pascal

para Ver e Agir

com Novidade

 
"Close up of girl in costume holding leaf“
- © Darren Kemper/Corbis (RF) Col: Fancy
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Manuela Silva
Abril 2012

… e ser faúlha onde a morte vive
E a vida rompe.
- Daniel Faria

Se em cada ano celebramos a Páscoa não é para repetir gestos ou fazer memória de palavras antigas, acontecimentos passados, experiências vividas por outras personagens ou povos, há muitos séculos atrás. Não é sequer apenas para recordar a vida de Jesus, a sua morte e ressurreição e fazê-lo como quem revisita uma biografia de alguém que muito apreciamos.

É, sim, para acrescentar novidade à nossa própria experiência humana, recriar e aprofundar a nossa singularidade, integrando nela a complexa e rica teia de relações que vamos tecendo, com os outros que nos são próximos mas também as nossas ligações com o vasto mundo que habitamos e nos habita.

A Páscoa é, assim, para cada pessoa, uma travessia, um trânsito, uma viagem, um renascimento – tudo palavras de poeta que evocam mudança, movimento, recriação, novidade. Desta nos dá conta a liturgia do Iº domingo a seguir ao domingo de Páscoa ao lançar o desafio: sede como crianças recém-nascidas.

A Páscoa vivida como experiência pessoal de morte e ressurreição traz-nos, de facto, a possibilidade de um olhar novo sobre a realidade, um olhar mais atento e com maior claridade, mais focalizado no essencial, mais descondicionado por velhos preconceitos enraizados no nosso individualismo egoísta, mais aberto ao outro e aos seus direitos e necessidades, mais amoroso e solícito no cuidado com a vida em comum e com toda a criação, que reconhecemos não como propriedade mas como dádiva de Deus e fruto laborioso do engenho humano. É este olhar novo o dom, por excelência, de cada Páscoa!

Há-de ser, pois, com este olhar novo, que vem da luz pascal, que prosseguiremos na busca inacabada de ver e compreender a realidade em que se tece a vida, a vida de cada um e de cada uma de nós, bem como a vida das nossas comunidades de referência, a família, a escola, o meio de trabalho, a Cidade e o País e seu enquadramento no mapa das relações à escala mundial, com seus anseios e dramas. Tudo o que é humano pede a revisitação de um olhar pascal.

À luz deste olhar novo, reflectiremos e reapreciaremos a cultura, a religião, a economia, a organização sociopolítica, para desvendarmos, nesses vários domínios, as tensões e os perigos que nos espreitam bem como para descobrirmos os sinais promissores de um tempo presente com sentido e de um futuro melhor.

Com um olhar novo de ressuscitados partiremos para um empenhamento pessoal mais esclarecido, determinado e vigoroso, em direcção a horizontes mais largos de esperança no Ressuscitado que é Ele mesmo a Absoluta novidade que, pacientemente, nos acolhe.

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