III domingo do Advento
Autor: Luciano Manicardi
Is 35,1-6.8.10; Sl 145, 7.8-9a.9bc-10; Tg 5,7-10; Mt 11,2-11
O anúncio da vinda do Senhor; a difícil arte da espera do Que Vem; a alegria que O Que Vem suscita: estes os temas que se destacam no III domingo do Advento. E que afirmam também a não-evidência da vinda do Senhor. O anúncio isaiano da vinda libertadora do Senhor chega aos filhos de Israel numa situação de “tristeza e pranto” (Is 35,10); as obras que atestam que Jesus é o Messias, O Que Vem, parecem negligenciar a “libertação dos prisioneiros” (Is 61,1; Lc 4,18) e são narradas a João que está na prisão e aí encontrará a morte (cf. Mt 14,3-12); a comunidade cristã é confrontada com o anúncio de uma vinda do Senhor que pede uma atitude de resistência, fé, paciência, semelhante à do agricultor, dos profetas (2.ª leitura), ou de Job (cf. Jb 5,11). O agricultor espera um fruto que depende de chuvas que até podem não vir; os profetas falaram e agiram em nome de Deus suscitando com frequência hostilidade e rejeição; Job perseverou nos sofrimentos, no absurdo, fazendo da sua espera uma luta dramática. Assim, a espera do Senhor tinge-se da cor da paciência.
A paciência é a arte de viver a incompletude e a parcialidade. A oração dos judeus que recita “Creio com fé plena e perfeita na vinda do Messias e, ainda que tarde, eu espero-a todos os dias” exprime bem a ideia de paciência ínsita na espera. Por detrás daquele “ainda que tarde” está a dramaticidade do incompleto e do irredento experimentados no quotidiano. A paciência é necessária para quem vive no mundo a espera do Reino: ela declina-se como paciência em relação a Deus, à Igreja e a si próprio. Em relação a Deus, porque Deus ainda não cumpriu, para sempre e para todos, as promessas de cura dos cegos e dos coxos, dos mudos e dos surdos, as promessas de salvação do mal, do pecado, da morte; em relação à Igreja, porque a comunidade cristã muitas vezes se mostra em falta no que toca às exigências evangélicas; em relação a nós próprios, porque descobrimos em nós inadequações e deformidades com respeito à nossa vocação. A paciência é “força em relação a si próprio” (Tomás de Aquino), capacidade de não se entregar ao abatimento, à tristeza, ao desespero. E isto graças ao facto de que a paciência é um olhar em grande (makrothymía [longanimidade]) sobre a realidade, sobre Deus, sobre a Igreja, sobre nós próprios. A paciência é grandeza de ânimo e concretiza-se no amor: “o amor é paciência” (1Cor 13,4).
“És tu aquele que há-de vir ou devemos esperar outro?” (Mt 11,3). A pergunta do Baptista indica não só que a fé é atravessada pela dúvida, mas que a dúvida pode apurar a fé e reduzir a distância entre a imagem do Senhor que o crente constrói e o próprio Senhor no seu revelar-se. Para o Baptista, a fé em Jesus Messias deixa de ser uma verdade evidente e, de certeza granítica, anunciada alto e bom som, torna-se pergunta sussurrada. Mesmo a fé, a nossa fé pessoal, tem uma história. E também a nossa fé não é apenas luz, mas luz e escuridão, luz na escuridão, e passa por zonas cinzentas.
Significativo, sem dúvida, é o facto de que o Baptista se dirige ao próprio Jesus e lhe põe a sua pergunta. A pergunta de fé não extingue o amor; pelo contrário, João retoma aquilo que o próprio Jesus lhe dirá: “És tu…”. Mais do que nunca, a fé aparece aqui como confiança pessoal. O amor purifica a fé, torna-a cada vez mais relação entre viventes.
No deserto como na prisão, na pregação autorizada como na pergunta humilde, João continua a esperar O Que Vem. João é o homem da espera, ou melhor, o homem que vive sob o signo da graça: a vida que recebeu pela graça de Deus no passado (João significa “o Senhor faz graça”; cf. Lc 1), ele espera-a como graça do futuro respeitando no hoje o Messias que vem. E precisamente a sua espera abre os lugares de morte e de fechamento, que são o deserto e a prisão, à vida e à liberdade. A sua espera torna-se esperança para as multidões que iam ter com ele ao deserto e para os discípulos que iam visitá-lo à prisão. A espera cristã da vinda do Senhor é dom de esperança para os homens.
© – Luciano Manicardi