Ano A 05 domingo da Quaresma
V domingo
da Quaresma
Autor: Luciano Manicardi
V Domingo da Quaresma
Autor: Luciano Manicard
Ez 37,12-14; Sl 129,1-2.3-4.5-6.7-8; Rm 8,8-11; Jo 11,1-45
A passagem da morte à vida, centro da mensagem deste domingo, prefigura, sobretudo com o episódio da ressurreição de Lázaro, o acontecimento pascal cuja celebração está cada vez mais próxima. A ressurreição é apresentada como acontecimento histórico: a morte em que se encontram os filhos de Israel é a situação de exílio na Babilónia da qual eles ressurgirão regressando à terra de Israel (1.ª leitura); é apresentada como acontecimento espiritual que caracteriza o crente que, deixando-se guiar pelo Espírito de Deus, passa da vida na carne, isto é, no egoísmo e no pecado, para a vida em Cristo (2.ª leitura); é apresentada como acontecimento pessoal e corporal que conduz Lázaro a sair do túmulo ao ouvir a palavra de Jesus (evangelho). Os textos sublinham também três dimensões da morte: ainda que apenas a morte de Lázaro seja física, a morte espiritual de quem vive no fechamento egocêntrico e a morte simbólica do povo deportado não são menos dramáticas e reais.
A morte comunitária de que fala Ezequiel é a situação de morte da esperança: “A nossa esperança desvaneceu-se, estamos perdidos” (Ez 37,11). Também nós, nas situações relacionais (uma amizade, um amor, um casamento), comunitárias e eclesiais que vivemos, podemos experimentar a morte da esperança, a falta de futuro. No entanto, o nascimento da fé na ressurreição e da esperança pascal acontece através da morte de outras esperanças. O Espírito criador é igualmente o Espírito que dá vida e suscita esperança onde reina a morte.
Para Paulo, o homem que vive “na carne”, na auto-suficiência egoísta, faz do seu coração o seu túmulo e encontra-se em morte espiritual. Mas o Espírito de ressurreição, que força a impenetrabilidade da morte e faz sair dos sepulcros, pode penetrar nos fechamentos individualistas e, fazendo morada no coração humano e habitando nele, pode introduzir o homem numa vida nova.
A passagem do evangelho é uma pedagogia para a fé em Cristo que é a ressurreição e a vida. O diálogo entre Jesus e Marta está centrado no crer: “Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá (Jo 11,25); “Crês nisto?” (11,26); “Sim, Senhor, eu creio (11,27). Perante a insegurança e a precariedade que a perspectiva da morte causa nas nossas vidas (“por causa da morte, nós, os homens, somos como cidades sem muros”: Epicuro), somos tentados a construir baluartes, defesas e barreiras que nos protejam daquela. Somos induzidos pelo medo a uma atitude defensiva. E, assim, mesmo da vida fazemos uma morte, uma escravidão (“os homens são escravos para toda a vida por causa do medo da morte”: (Heb 2,15)): tentando defender-nos da morte, na realidade afastamo-nos da vida. Jesus, porém, pedindo fé, confiança, pede para entrar na sua atitude diante da morte (“Pai, eu sabia que me escutas sempre”: Jo 11,42), atitude que, ao mesmo tempo que assume a morte e sofre por aquele que morreu, faz também da morte uma vida, vivifica a morte. A fé é o lugar da ressurreição. A fé de Jesus é, portanto, um magistério para que nós aprendamos a acreditar: “Disse isto para a gente que me rodeia, para que creiam” (Jo 11,42). Uma homilia do Pseudo Hipólito proclama: “Tendo tu visto a obra divina do Senhor Jesus, não duvides mais da ressurreição! Lázaro seja para ti um espelho: conteplando-te a ti próprio nele, crê no ressurgir.”
Se a fé é o lugar da ressurreição, o amor é a sua força: Jesus “amava muito Lázaro” (11,5) e esse amor fez-se visível no seu choro copioso (cf. 11,35-36). O amor integra a morte na vida e encontra o sentido desta última no dom: dar a vida torna-se um dar vida. Ter fé em Jesus que é ressurreição e vida significa fazer do amor um lugar em que a morte é posta ao serviço da vida.
A fé e o amor manifestam-se na palavra com que Jesus ressuscita Lázaro: o escândalo e a loucura de chamar quem está morto e jaz no sepulcro é possível graças à fé no Deus que ressuscita os mortos e ao amor, ao humaníssimo amor que ligava Jesus a Lázaro. O poder de ressurreição da palavra de Jesus está todo na fé e no amor que a habitam.
© – Luciano Manicardi