Ano A 12 domingo tempo comum
XII domingo do tempo comum
Autor: Luciano Manicardi
XII domingo do tempo comum
Autor: Luciano Manicardi
Jr 20,10-13; Sl 68,8-10.14.17.33-35; Rm 5,12-15; Mt 10,26-33
A fé é uma luta activa contra o medo: é assim para o profeta Jeremias e para os discípulos de Jesus. A fé exige coragem. Jesus exorta os discípulos a “não temerem” quem possa persegui-los, quem se oponha ao seu testemunho e à sua pregação. Jesus pede-lhes que realizem um êxodo do medo. Ou melhor, muito realisticamente, Jesus indica o caminho não tanto para eliminar o medo, mas para domá-lo, para o reorientar, para, do medo de eventuais inimigos, elaborar temor do Senhor. Para o discípulo, como para o profeta, o medo é vencido pela confiança no Senhor, pela consciência da sua proximidade (cf. Jr, 20,11), pela fé no seu amor que toma a seu cargo os mínimos pormenores da nossa vida (cf. Mt 10,30).
Os discípulos, enviados por Jesus “como ovelhas para o meio dos lobos” (Mt 10,16), enfrentarão na sua missão perseguições, obstáculos, inimizades. E serão tentados a tornar-se presa do medo. Mas poderão encontrar motivo de coragem e de força na relação com o Senhor, na certeza de fé de que, mesmo quando são perseguidos por causa da fé, seguem os passos do seu Senhor. E poderão colher motivos de confiança no ensinamento que o Senhor lhes comunicou no segredo, na intimidade, partilhando com eles a sapiência do seu próprio coração (cf. Mt 10,26-27). Só a palavra do Mestre que permanece no coração é motivo de força e de coragem para o crente, o qual manifesta a sua qualidade de discípulo precisamente no cerne da sua actividade missionária.
As palavras do Senhor parecem querer manter viva nos discípulos a lembrança da sua proximidade, do seu cuidado, do seu amor por eles. Só assim eles poderão manter a confiança mesmo nas tribulações e vencer o medo com o amor. Porque é realmente tão importante para o discípulo não ter medo de quem lhe possa fazer mal? Não só porque, tendo medo, vive na dependência daquele que lhe quer fazer mal e aumenta o seu o poder sobre si, mas sobretudo porque, se tiver medo do outro, se impede a si de amá-lo. O enviado do Senhor, temendo aquele que o persegue, esquiva-se a ser testemunha do Cristo que pode mudar a realidade do outro, o seu ódio, amando-o. Como posso anunciar a boa notícia do Evangelho de tenho medo do outro? Como pregar a conversão, se me mostro paralisado pelo medo? Como pode uma Igreja que se alimenta de medo e de desconfiança em relação ao mundo anunciar ao mundo a alegre notícia da salvação? O Evangelho pede aos cristãos e às Igrejas no mundo que criem relações de proximidade e de confiança mesmo com os inimigos, mesmo com quem é abertamente hostil.
Mandando os discípulos “proclamarem sobre os terraços” o que lhes tinha dito, ensinado e confiado na obscuridade (Mt 10,27), Jesus pede aos cristãos e às Igrejas a coragem da palavra, a parrésia, a franqueza e a audácia do anúncio evangélico. O que se opõe à parrésia é o medo que reduz a liberdade do cristão e o leva a mover-se e a agir de acordo com lógicas de conveniência, lógicas “políticas”, a dizer e a não dizer consoante as circunstâncias, a usar as palavras de modo camaleónico. O risco terrível para o cristão é envergonhar-se do Evangelho (cf. Rm 1,16): “Quem se envergonhará de mim e das minhas palavras […] também o Filho do homem se envergonhará dele quando vier na glória de seu Pai” (Mc 8,38).
Diz a passagem de Mt 10,29: “Não se vendem dois pássaros por uma moeda? No entanto, nem um deles cairá por terra sem que o vosso Pai o queira [liter., ‘sem o vosso Pai’]”. Dietrich Bonhoeffer escreveu, comentando estas palavras: “Com certeza que nem tudo o que acontece é simplesmente ‘vontade de Deus’. Mas no fim, porém, nada acontece ‘sem que Deus o queira’ (Mt 10,29); através de cada acontecimento, qualquer que seja eventualmente o seu carácter não divino, passa uma estrada que conduz a Deus.” Esta confiança na presença de Deus também no não divino, no enigmático, nos sofrimentos suportados pelo Evangelho, diz a sua paternidade fiel em relação a nós e vence o medo. Ajuda a não perdermos a coragem nas inevitáveis tribulações.
© – Luciano Manicardi