Ano A 23 domingo tempo comum
XXIII domingo do tempo comum
Autor: Luciano Manicardi
XXIII domingo do tempo comum
Autor: Luciano Manicardi
Ez 33,7-9; Sl 94,1-2.6-7ab.7c-9; Rm 13,8-10; Mt 18,15-20
A fé em Deus torna-se responsabilidade para com o irmão e esta declina-se como repreensão e correcção do irmão: esta a mensagem que une 1.ª leitura e evangelho
A correcção fraterna requer ums profundo sentido de fé. Este emerge das palavras de Jesus segundo as quais aquela se deve praticar em relação a quem “pecou”, cometendo uma culpa pública, não dirigida de modo particular contra o outro. O texto não diz “Se o teu irão pecou contra ti”. Nesse caso, revelará Jesus, há o perdão sem medida (cf. Mt 18,21-22). A maturidade de fé consiste em sentir-se ferido pelo pecado enquanto tal, não tanto pela ofensa pessoal.
A correcção fraterna opõe-se ao silêncio cúmplice, à passividade de quem não quer brigar com o outro, aos mecanismos de autojustificação sempre prontos a encontrar bons motivos para não intervir e não denunciar o mal ali, onde é cometido. A nível eclesial a correcção corresponde a uma palavra audaz e profética pronunciada a qualquer preço, porque no meio está o Evangelho. Um dos mais frequentes pecados de omissão é abster-se da denúncia do mal e do pecado, é abster-se da correcção fraterna.
A capacidade de correcção diz da liberdade do crente. E também da sua obediência radical ao Evangelho e da sua pertença ao Senhor.
A autenticidade do amor que emana do Evangelho manifesta-se na capacidade de corrigir aquele que se ama. O amor “espiritual”, não psíquico, vence a tentação de calar o pecado cometido pelo amigo por temor de, com isso, perder a amizade. A correcção fraterna diz que o amor cristão deve ser vivido dentro da responsabilidade pelos outros e pelo mundo.
A correcção fraterna é entendida também do ponto de vista de quem a recebe, que é sempre um irmão, um membro da comunidade cristã. É necessária muita humildade e disponibilidade para se corrigir e para recomeçar. A correcção fraterna autêntica não é um juízo, e ainda menos uma condenação, mas um acontecimento sacramental que faz reinar Cristo como terceiro entre quem a pratica e quem a recebe. Ela requer a coragem da palavra: coragem que apenas pode nascer enraizando a sua própria palavra na palavra do Evangelho.
Os três “graus” do processo disciplinar em relação a quem pecou, na Igreja (cf. Mt 18,15-17), indicam pelo menos a prudência e a gradualidade em que se desenvolve a tentativa de conciliar a instância evangélica com o respeito pelo irmão pecador, a fim de o recuperar. O horizonte da correcção é, de facto, o que exprimiu Ezequiel, segundo o qual Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez 33,11).
A excomunhão (cf. Mt 18,17) aparece como extrema ratio. E certamente a prática histórica das comunidades poderá e deverá criar e inventar formas de intervenção que procuram por todos os meios evitar o afastamento de um irmão. Impressiona, na Regra de S. Bento, o procedimento previsto em relação a um irmão pecador: “O abade proceda como um médico especialista: se usou os lenitivos, os unguentos das exortações, os medicamentos das divinas Escrituras e, por último, o cautério da exclusão ou das vergastadas, se vê que todo os seus esforços não servem de nada, então recorra ao que é ainda mais eficaz: a oração sua e de todos os irmãos por ele, a fim de que o Senhor, que tudo pode, opere a cura do irmão doente” (28,2-5).
O alargamento aos membros da comunidade, ou pelo menos aos seus responsáveis, do poder de “desligar e ligar”, reservado unicamente a Pedro em Mt 16,19, diz da importância da co-responsabilidade no exercício da autoridade na comunidade cristã. E confirma um princípio importante da prática sinodal: “O que no corpo eclesial respeita a todos deve ser discutido e aprovado por todos.”
Se é certo que na Igreja há divisão e pecado, ela encontra, porém, a sua unidade no Nome do Senhor: ali, mesmo entre dois ou três, porque nunca no Novo Testamento a Igreja depende do número, pode-se criar a sinfonia (vb. symphonéo: v. 19) agradável ao Senhor e por ele escutada.
© – Luciano Manicardi