Sábado SantoPartilhando uma reflexão de Marie-Dominique Minassian…As imagens da véspera ainda nos assombram. Os gritos e o grande silêncio que se seguiram pesam sobre nós. A morte começou a infiltrar-se. Apanhou-nos. A sua presença é perturbadora. Toda aquela violência cantou vitória. Tudo o que restou foi um corpo inerte colocado num túmulo esperando para ser cuidado no dia seguinte ao sábado. A cruz fez o seu trabalho. Tudo parece acabado. Temos que conviver com isso. Mas tudo em nós resiste. A vida emerge. A vida alojada na memória liberta-se. A memória luta contra a ausência. Não aceitamos o vazio. Os traços do outro são lembrados como antídoto para a dor dilacerante. Quem ganhará? A morte e sua realidade crua? Ou a outra lembrança, tão repentinamente presente nos nossos pensamentos errantes, como bolhas de oxigênio explodindo e libertando um bálsamo sobre a dor. E quem cuida de quem? Este dia sem poder fazer nada … Isso também é um pensamento obsessivo … O ânimo vacila sob o peso deste dia até ao anoitecer. Tudo parece estar dito desde que a vida voou. E a de quem fica, esbarra, constantemente, em impossibilidades. Quem rolará esta pedra para longe? A Vida torna-se incerta, complicada, bloqueada … Quem… ? Mas os nossos passos decididos vão até lá na mesma. Temos que … veremos … na verdade, as coisas não estão como deveriam ser … A pedra foi removida e dentro está o anúncio do fim do susto. O impossível irrompe nas memórias devastadas. A saída aparece. É lá fora, nos caminhos da vida compartilhada que o impossível acontece. Devemos voltar a isso. É aí que Ele nos espera. O medo dá lugar ao estupor. Temos de retroceder, voltar atrás na dor, acreditar na vida. Como? Devemos seguir as palavras do Mestre, que agora têm pressa do anúncio. Os discípulos acotovelam-se e correm para levar a mensagem às pessoas mais próximas. A ressurreição está em marcha. A vida corre. Há novidades que o túmulo não poderia conter. Então a aventura continua !? Estávamos sem fôlego, sem alegria, sem coração. Mas agora estamos cheios de confiança, saindo do silêncio e explorando as possibilidades. E se… ? E se fosse verdade? E se a ressurreição fosse vista em vida? E se deixarmos que a morte faça a desintegração, para podermos despertar para um novo o amanhecer? |